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O INSTITUTO GREGORIO BAREMBLITT nasce do encontro de um grupo de amigos com um desejo comum de reinventar novas práticas sociais. Para tanto constituímos uma associação sem fins lucrativos. Seu nome é uma homenagem ao psiquiatra, psicoterapeuta, professor, pesquisador, analista e interventor institucional, esquizoanalista, esquizodramatista e escritor Gregorio Franklin Baremblitt. Nosso desejo é que este dispositivo tenha uma inserção social e que possamos construir com nossa comunidade um Outro Mundo Possível.

domingo, 13 de março de 2011

NOSSAS ESTRELAS: MANIFESTO CARNAVALESCO

Aos mais desavisados
– esses que se acham muito bem informados –
Vão soar como esquizofrenia
Minhas palavras sobre o carnaval da Bahia.
Contudo, aviso aos navegantes:
Não estou só. Tenho amigos nada ignorantes
Que não se iludem com dogmas, com o mítico
E, sempre, mantêm afiado o senso crítico.
Em Salvador, diz o governo (não é ilusão):
Brincam o carnaval menos de 22% da população.
Quem aproveita mesmo é a turistada
Que usa, abusa e deixa nossa Soterópolis acabada.
O folião pipoca, com seu minguado dinheiro
Se espreme entre a polícia e o “cordeiro”.
Os blocos – condomínios particulares ambulantes –
Usurpam o direito de ir e vir do casal de amantes
Que não quer pagar por um abadá cretino
Para não se tornar, das oligarquias momescas, inquilino.
Como disseram em Ondina, num improvisado letreiro:
“Todo bloco de corda tem um pouco de navio negreiro”.
Basta uma breve passada pela avenida
Para sentir o queimar da velha ferida:
Dentro, “gente bonita”, selecionada, se diverte;
Fora, o povo é enxotado como se fosse a Peste.
Só de lembrar me ataca a azia!
Wanda Chase dizendo que o carnaval é uma democracia.
A Luiz, Moraes, Gerônimo e todos que tiveram opinião
Lhes foi negado um decente quinhão.
Presentearam com trios esquisitos, não deram o verdadeiro valor
A estes caras que inventaram o Carnaval de Salvador.
E pra deixar minha úlcera ruim, pior,
Durval Lélis diz que devia haver um circuito privado, indoor.
Talvez, assim, ele não tenha a incomensurável agrura
De ver, em seu bloco de gente bonita, feiura.
A feiura do povo, do pobre, do preto
Quem não vem de bairro nobre, mas, sim, do gueto.
Daniela, a Rainha Decadente,
Com sorriso bonito, mas veneno de serpente,
Sugeriu que os trios independentes acelerassem
Para que o povo dos camarotes, por mais tempo, a ela admirassem.
Sobre Bell, já me disseram: “Rapaz, deixe lá, não se meta
Porque o cara é enviado direto do capeta”.
Não duvido, pois o jeito que leva seus devotos na mão,
Só se tiver feito um pacto com o Cramunhão.
Mas entendo que (entre tantos) Dani, Durval, Ivete e Bell
Já caíram alguns degraus daquele lugarzinho no imaginário céu.
A repetição é tanta e ostracismo tão iminente
Que tem até compositor reclamando de “excesso de contingente”.
Aproveitando uma das poucas vantagens da mais avançada idade
Não incorrerei no erro de discutir, da música, a qualidade:
O que é bom pra mim pode ser ruim pra você.
Vai que eu amo rádio e você é louco por TV?
A diferença em si é bela, assaz salutar
Desde que haja espaço para TODO MUNDO brincar.
Para mim, em suma, isto chamado, em Salvador, de Carnaval
É a institucionalização oficial da segregação racial.


http://incognitodomisterio.blogspot.com/

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