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O INSTITUTO GREGORIO BAREMBLITT nasce do encontro de um grupo de amigos com um desejo comum de reinventar novas práticas sociais. Para tanto constituímos uma associação sem fins lucrativos. Seu nome é uma homenagem ao psiquiatra, psicoterapeuta, professor, pesquisador, analista e interventor institucional, esquizoanalista, esquizodramatista e escritor Gregorio Franklin Baremblitt. Nosso desejo é que este dispositivo tenha uma inserção social e que possamos construir com nossa comunidade um Outro Mundo Possível.

domingo, 13 de março de 2011

Estratégias para o uso abusivo do crack

Todo uso de drogas está associado a fatores biopsicossociais, o consumo de crack não é diferente. Além dos problemas físicos há os de ordem psicológica, social e legal. Ocorrem graves perdas nos vínculos familiares, nos espaços relacionais, nos estudos e no trabalho, bem como a troca de sexo por drogas e, ainda, podendo chegar à realização de pequenos delitos para a aquisição da droga. Há controvérsia se tais condutas socialmente desaprovadas têm relação com o estado de “fissura” para usar ou se resulta da própria intoxicação. A unanimidade é que o usuário desemboca numa grave e complexa exclusão social.
As abordagens ao usuário de crack exigem criatividade, paciência e respeito aos seus direitos, enquanto cidadão, para superar seu estado de vulnerabilidade, riscos, estigma e marginalização. Estratégias preventivas podem ser levantadas não somente entre esse novo grupo, como também dirigidas àqueles usuários que, por algum motivo, ainda não se aventuraram nesse tipo de droga. O atendimento ao dependente de crack deve considerar alguns importantes critérios:
1. O usuário que não procura tratamento: a ele devem ser dirigidas estratégias de cuidados à saúde, de redução de danos e de riscos sociais e à saúde. As ações devem ser oferecidas e articuladas por uma rede pública de serviços de saúde e de ações sociais e devem ser feitas por equipes itinerantes, como os consultórios de rua,  que busquem ativamente ampliar o acesso aos cuidados em saúde e em saúde mental destes usuários. A perspectiva dessa abordagem objetiva os cuidados da saúde como também as possibilidades de inserção social.
2. A porta de entrada na rede de atenção em saúde deve ser a Estratégia de Saúde Família e os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Estes serviços especializados devem ser os organizadores das demandas de saúde mental no território. Os CAPS devem dar apoio especializado às ESF, fazer articulações intersetoriais (educação, assistência social, justiça, cultura, entre outros) e encaminhar e acompanhar os usuários à internação em hospitais gerais, quando necessário.  
3. Quando o usuário acessa as equipes de saúde e de saúde mental,  é necessária uma avaliação clínica das suas condições de saúde física e mental, para a definição das intervenções terapêuticas que devem ser desenvolvidas. É importante que se faça uma avaliação de risco pelas equipes de saúde para se definir se é necessária ou não a internação.
4. A internação deve ser de curta duração, em hospital geral da rede pública, com vistas à desintoxicação associada aos cuidados emergenciais das complicações orgânicas e/ou à presença de algum tipo de co-morbidade desenvolvida com o uso. É concebível e muito comum que usuários de crack, ainda que num padrão de uso preocupante, resistam à internação e optem pela desintoxicação e cuidados clínicos em regime aberto, acompanhado nos CAPSad por uma equipe interdisciplinar, nos níveis de atendimento intensivo, semi-intensivo e até o não intensivo. Nesse caso, a boa evolução clínica, psíquica e social dependerá da articulação inter e intrasetorial das redes de apoio, inclusive e se possível, com mobilização familiar.
5. A decisão pela internação deve ser compreendida como parte do tratamento, atrelada a um projeto terapêutico individual e, assim como a alta hospitalar e o pós-alta, deve ser de natureza interdisciplinar. Intervenções e procedimentos isolados mostram-se ineficazes, com pouca adesão e curta duração, além de favorecer o descrédito e desalento da  família e mais estigma ao usuário.
Estratégias de intervenção e cuidados da rede de saúde:
a.    Avaliação interdisciplinar para cuidados clínicos (e psiquiátricos, se necessário).
b.    Construção de Projeto Terapêutico Individual, articulado inter e intrasetorialmente.
c.     Atenção básica (via Estratégia Saúde da Família e Núcleo de Apoio a Saúde da Família, com participação de profissionais do CAPSad).
d.    CAPSad (Centro de Atenção Psicossocial/ Álcool e Drogas) – acolhimento nos níveis intensivo, semi-intensivo até não intensivo.
e.    Leitos em hospital geral.
f.      Consultórios de rua, casas de passagem.
g.    Estratégias de redução de danos
h.    Articulação com outras Políticas Públicas: Ação Social, Educação, Trabalho, Justiça, Esporte, Direitos Humanos, Moradia.
Dados epidemiológicos
O cenário epidemiológico do crack no Brasil, segundo o CEBRID (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas):
1. População geral, cidades com mais de 200.000 habitantes (2001 e 2005).


2001
2005

homens
mulheres
total
homens 
mulheres
total 
Crack: uso na vida (%).
0,7 
0,2
0,4
1,5
0,2
0,7
       
2.    Estudantes de 10 a 19 anos, ensino fundamental e médio da rede pública de ensino, (2004) – padrão de consumo de crack.

Padrão de uso
%
Uso na vida
0,7
Uso no ano
0,7
Uso no mês
0,5
Uso freqüente* 6 ou mais vezes nos últimos 30 dias
0,1  
Uso pesado** 20 ou mais vezes nos últimos 30 dias
0,1

3. Crianças e adolescentes, de 9 a 18 anos, em situação de rua (27 capitais brasileiras - 2003).
Uso no ano
8,6%
Uso no mês
5,5%

Em nossa cidade oferecemos, na Rede Pública de Saúde, o Grupo de Apoio Frei Gabriel, que ocorre na rua João Pinheiro n° 999, Bairro Princesa Isabel (antiga Santa Casa), às quartas-feiras, das 19 horas às 23 horas.
Oferecemos atendimento psiquiátrico, psicoterápico, orientação social e medicação ao usuário de álcool e outras substâncias, sem a necessidade de agendamento.
Nossa equipe constitui-se de um médico psiquiatra, duas psicólogas, uma assiste social e três técnicas de enfermagem.
Recentemente as famílias dos ao usuário de álcool e outras substâncias passaram a ser acolhidas semanalmente por uma de nossas psicólogas e mensalmente por toda a equipe.
Os atendimentos de emergência são realizados no Hospital Municipal Frei Gabriel, com internação breve nos casos indicados, com assistência psiquiátrica e psicoterápica. Posteriormente esses usuários são acompanhados no Grupo de Apoio Frei Gabriel.
Acreditamos que a dependência química seja um problema de saúde complexo que exige, como já dissemos, as mais variáveis formas de intervenção, sejam no campo da saúde, ações sociais, direitos humanos, educação, cultura, esporte, lazer, habitação, geração de renda. Sabemos que há muito que fazer, como a construção de um CAPSad (em andamento), a formação de redutores de dano, a criação de casas de passagem, consultórios de rua, ampliação da estratégia de redução de danos e uma melhor articulação com a Atenção Básica de Saúde.
Contamos com o apoio de toda comunidade para nos ajudar nas mudanças necessárias a um cuidado cada vez maior de nossa população.
Celso Peito Macedo Filho
Referências bibliográficas de consulta:
Domanico, A. & MacRae, E. Estratégias de Redução de Danos entre Usuários de Crack. In: Silveira, D. X. & Moreira, F. G. Panorama Atual de Drogas e Dependências. São Paulo: Ed. Atheneu, 2006.
Silveira, DX, Labigalini E. e Rodrigues, LR Redução de danos no uso de maconha por dependentes de crack. In: SOS crack prevenção e tratamento. Governo do Estado de São Paulo, 1998.
Andrade, AG, Leite, MC e col. Cocaína e crack: dos fundamentos ao tratamento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.
Governo de São Paulo. SOS crack: prevenção e tratamento, diretrizes e resumos de trabalhos, 1999.
Silva, SL. Mulheres da luz: uma etnografia dos usos e da preservação no uso do crack. 2000.

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