Quem sou eu

Minha foto
O INSTITUTO GREGORIO BAREMBLITT nasce do encontro de um grupo de amigos com um desejo comum de reinventar novas práticas sociais. Para tanto constituímos uma associação sem fins lucrativos. Seu nome é uma homenagem ao psiquiatra, psicoterapeuta, professor, pesquisador, analista e interventor institucional, esquizoanalista, esquizodramatista e escritor Gregorio Franklin Baremblitt. Nosso desejo é que este dispositivo tenha uma inserção social e que possamos construir com nossa comunidade um Outro Mundo Possível.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

CURSINHO POPULAR DO INSTITUTO GREGÓRIO BAREMBLITT: MUDANÇA - LUCAS OLIVEIRA


O Instituto Gregório Baremblitt, através de seus membros, organizou no mês de outubro um cursinho gratuito com o intuito de colaborar com os estudos pessoas que fossem prestar o Vestibular Uemg 2012 e não tivessem acesso a outras instituições de ensino ou meio de pagá-las. O público alvo estava nos bairros da periferia de Frutal, os bairros mais pobres da cidade. O cursinho teve funcionamento em uma sala da escola Frei Teodósio. Diversos professores da cidade tiveram a sorte de participar dessa empreitada. Eu sou um deles.

Quando dei a primeira aula a minha preocupação era ser um bom professor, claro. Dar o máximo de conteúdo em um mínimo de tempo, afinal a prova estava muito próxima, de forma interessante e compreensível, que fosse aplicado ao máximo para a resolução da prova.

Cheguei na sala, me apresentei e comecei a dar aula. Não conversaram, não se entreolharam, estavam verdadeiramente atentos ao que eu dizia. Ou à minha cara: não sou bonito, sou careca e tenho uma tendência natural a ser antipático. Mas não era isso. Era só o primeiro impacto. Meia hora depois já faziam perguntas, já comentavam, já participavam. No final do primeiro dia eu acho que já tinha alguns amigos ali.

Esses alunos são pessoas muito interessantes. Quase todos trabalhadores. Apenas algumas mocinhas que ainda fazem o ensino médio. Uma jovem senhora faz pães e participa da Feira do Pequeno Produtor, outra vem de Aparecida de Minas para estudar. Tem duas irmãs que vendem doces, enxovais e sapatos pela região. Uma outra trabalha em um bar. Grande parte trabalha no comércio de Frutal, e já pararam de estudar a algum tempo. Tem um senhor aposentado, sentado no fundo da sala, talvez o mais atento de todos e bastante questionador.

E suas histórias são ainda mais interessantes. Sim, eu ouço todas, talvez, mais atento do que eles ao que eu digo sobre Gramática da Língua Portuguesa ou Literatura Brasileira. O que fizeram no dia, o que aconteceu com o irmão, o filho que precisa ir ao médico, o pai com Alzheimer, o patrão chato, o cliente arrogante, o buraco na rua que quase entortou o pneu da moto, o calor, a chuva. São pessoas normais, em suas relações normais comigo e com o mundo como o conhecem.

Aprendi com o tempo e com a faculdade o poder transformador da educação. Esses vestibulandos também acreditam nesse poder de transformação. Eles acreditam nas possíveis mudanças que suas vidas terão depois de fazerem uma faculdade de Direito, Administração, Comunicação Social ou Geografia. Eles não são inocentes. Sabem que não é o fato de ter um diploma de curso superior o que vai fazê-los mudar de vida. É o processo em si, de estudar, de buscar, de aprender, que pode mudar tudo.

Uma leitura crítica do mundo só pode ser feita através do constante aprendizado, do pensamento, da resolução do conflito, do reconhecimento de sua realidade. É poder saber que somos, quase todos, oprimidos. E depois disso podermos criar algo novo, buscar saídas, e trabalhar para conseguir viver dignamente escapando como pudermos dessa situação de opressão.

Ideia maluca essa de ajudar pessoas a mudarem suas vidas, assim de graça, sem pretensão outra que não apenas ajudar. Pessoas malucas assim sempre existiram e sempre que puderam fizeram um pouco de diferença da massa amorfa que costumamos nos tornar quando nos acomodamos. Acontece que é muito fácil se acomodar. Eu estava bastante acomodado, mas vendo a vontade de mudança dessas pessoas eu entendi que o caminho estava errado.

O homem continua sendo feito de esperanças. Tem quem chame isso de ambição. E é muito bom ver que mesmo com todas as preocupações diárias, o dinheiro que falta, o trabalho que sobra, e a família que sustenta e que também tem de ser sustentada, mesmo tendo que correr todos os dias para conseguir tudo o que se precisa, algumas pessoas se dispuseram a sonhar com uma mudança. Uns estudando, outros pretensiosamente ensinando.

A mudança é fatal.

E o sonho está em todos nós.

Lucas Oliveira, é o professor de língua portuguesa e literatura do Cursinho Popular do IGB.


segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Cursinho Popular do IGB dá oportunidade àqueles que haviam parado de estudar





Com o desejo de concluir o ensino superior, trinta frutalenses de várias faixas etárias, que não têm condições de pagar um cursinho particular, voltaram a estudar depois do Instituto Gregório Baremblitt (IGB) de Frutal dar a oportunidade de um cursinho popular voltado para o vestibular da UEMG, campus Frutal. Este processo seletivo aconteceu no último domingo, 27. Após isso, todos os envolvidos deste projeto social, ou seja, os alunos, sete professores e organizadores se confraternizaram na sede do IGB. As aulas do cursinho, durante 45 dias, aconteceram na Escola Municipal Frei Teodósio.
Dois anos parada após terminar o terceiro colegial, Jéssica Ferreira, 19 anos, que prestou administração de empresas, disse que graças à oportunidade voltou a tomar gosto pelos estudos. “A gente relembrou e aprendeu. Foram pessoas de várias faixas etárias. Tinha pessoas longe dos estudos há 10 e até 15 anos. O cursinho do Instituto veio em ótima hora para todos”, comemora.  
Assim como Jéssica, Joyce Evelin Borges dos Santos, 22 anos, há cinco anos fora da escola, foi exemplo de superação e vontade de crescer na vida. Tentando Comunicação Social, ela também diz que o Cursinho Popular do IGB veio de encontro ao seu desejo de voltar a estudar e assim sonhar com uma vida melhor. “Quando fiquei sabendo fui logo fazer minha inscrição. Relembrei muitas coisas e aprendi outras que nem me interessava antigamente”, disse Joyce.
Para a terapeuta ocupacional do IGB Frutal, Alzimara Belo, todos os professores contribuíram socialmente com a causa e assim os alunos foram bem preparados para o vestibular.  “E todos obtiveram êxito na correção de seus gabaritos. Então eu acho que foi um esforço que valeu muito a pena; e a gente pretende no ano que vem dar continuidade a este projeto que nasceu de uma vontade de transformação social”, destacou Mara.
O Cursinho Popular IGB também deu oportunidade ao universitário José Penha. Ele, que está no segundo ano de Direito da UEMG, pela primeira vez atuou como professor de História e Inglês. Para José, o “mergulho” no universo de lecionar fez com que descobrisse o seu potencial. “Aprendi a encarar as coisas mais de frente. Eles me ensinaram mais do que eu a eles. Passaram-me muito de ousadia, de preparação, de paciência e de confiança”, comemora o universitário.  (Renato Manfrim)