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O INSTITUTO GREGORIO BAREMBLITT nasce do encontro de um grupo de amigos com um desejo comum de reinventar novas práticas sociais. Para tanto constituímos uma associação sem fins lucrativos. Seu nome é uma homenagem ao psiquiatra, psicoterapeuta, professor, pesquisador, analista e interventor institucional, esquizoanalista, esquizodramatista e escritor Gregorio Franklin Baremblitt. Nosso desejo é que este dispositivo tenha uma inserção social e que possamos construir com nossa comunidade um Outro Mundo Possível.

domingo, 17 de julho de 2011

A DROGA DA MÍDIA: MAIS DO QUE NÃO SE SABER O QUE FAZER COM O CRACK, NÃO SE SABE FALAR DELE – ANTÔNIO LANCETTI




A droga da mídia
Mais do que não se saber o que fazer com o crack, não se sabe falar dele


Antônio Lancetti* 


Com honrosas exceções, como a matéria de Eduardo Duarte Zanelato publicada pela revista Época, caderno São Paulo, no dia 27 de março passado e intitulada "Elas tiram as pedras do caminho, a rotina das agentes de saúde que trabalham na cracolândia para convencer os usuários de drogas a se tratarem da dependência", a mídia tem se dedicado a publicar matérias e programas televisivos sensacionalistas e irresponsáveis a respeito do crack.


Muitas equipes de reportagem acompanharam o trabalho de agentes de saúde, enfermeiros e médicos que conseguem romper o cerco que existe entre esses intocáveis e o resto da sociedade. 


Foram testemunhas da persistência desses trabalhadores do SUS, do conhecimento de histórias de pessoas com vidas difíceis, quando não escabrosas, que são cuidados, que pedem ajuda.


Mas não deram uma linha a respeito.


Esses repórteres conheceram homens, mulheres, jovens e crianças que deram um curso inesperado a suas vidas, e estão sendo atendidos pelas equipes de saúde da família ou pelos Centros de Atenção Psicossocial - CAPS Álcool e Drogas e Infantil da Sé, mas preferem divulgar a ideia de que, se você fumar uma pedra de crack, nunca mais se livrará dela, que a pedra custa cinco reais e que por dois reais você pode adquirir outra destilada com querosene ou gasolina chamada oxi.


E dá o endereço: Rua Dino Bueno com Helvetia ou seu entorno chamado "cracolândia paulistana".


Depois da carga midiática, a população flutuante que frequenta a região dos Campos Elíseos e adjacências aumentou significativamente.




Se durante a semana há centenas de pessoas nas ruas usando crack, durante o fim de semana são milhares.


É só conferir.


Em 1979, Gilles Deleuze produziu um texto luminoso que começa afirmando: "Está claro que não se sabe o que fazer com a droga (mesmo com os drogados), porém não se sabe melhor como falar dela" (Duas Questões, in SaúdeLoucura 3, Hucitec, São Paulo, 1991).


Hoje, em 2011, também não sabemos o que fazer com a droga, temos muitas dificuldades para cuidar dos drogados e não sabemos, ou sabemos muito mal falar dela.


Quando alguém se candidata a tratar, cuidar ou, ilusoriamente, salvar essas pessoas, passa a fazer parte de um conjunto-droga: produção, distribuição, consumo, repressão, tratamento...


Ser cuidador dessas pessoas requer adentrar em um território complexo, controverso e fascinante.


De que serve o consultório se eles não vão às consultas?


Ou as unidades de saúde que abrem às 7 horas da manhã, se a vida nas bocadas invade a madrugada?


Em São Paulo, os profissionais do Sistema Único de Saúde conseguem se vincular com essas pessoas, baseados na práxis do cuidado, na posição ética de defensores da vida e de promotores de cidadania.


Mas esses profissionais enfrentam inúmeros obstáculos.


Quanto custa conhecer a biografia de um "noia"?


Conseguir que a pessoa tire seus documentos e adira ao tratamento de sua tuberculose, sífilis ou AIDS?


Ainda mais quando chegam os guardas municipais, com seus famosos rapas e deixam essas pessoas sem documento e sem remédios.


O afeto dos agentes de saúde colide com o gás de pimenta da GCM Guarda Civil Metropolitana, a truculência da Polícia Militar, a falta de vagas em abrigos, a ausência de locais atrativos para homens e mulheres como um dia foi o Boraceia.


Na edição 56 da revista Piauí, Roberto Pompeu de Toledo, em "Crianças do Crack", mostrou detalhes da vida de alguns jovens e algumas crianças e o impasse sistemático da metodologia do Serviço de Atenção Integral ao Dependente (SAID), hospital psiquiátrico conveniado com a Prefeitura de São Paulo e que importa um pacote de tratamento norte-americano.


Os meninos e meninas magistralmente descritos nessa matéria lá estão, em sua grande maioria graças ao vínculo de confiança conquistado pelos agentes de saúde, médicos e enfermeiros do Projeto Centro Legal e do Programa de Saúde da Família do Centro da Cidade de São Paulo.


Porém, uma vez lá internados, nessa e em outras clínicas, eles perdem o contato com seus cuidadores.


A metodologia centrada exclusivamente na internação hospitalar não se relaciona com os universos onde as pessoas vivem e por isso os processos terapêuticos ficam truncados.


É preciso repetir incansavelmente: não é possível enfrentar de modo simplificado problemas de tamanha complexidade.


Não é verdade que se você experimenta uma vez uma pedra de crack se tornará um viciado, essa ideia só funciona como alma do negócio.


Não é verdade que a internação seja "a solução" para o tratamento dos drogados, se assim fosse não haveria nas clínicas pessoas com 30, 40 ou 50 internações.


Também não é verdade que os verdadeiros toxicômanos mudem com qualquer metodologia clínica conhecida.


É preciso ter condições sociais, relacionais, biológicas e institucionais para se transformar em um verdadeiro toxicômano.


Mas cocaína e crack são absolutamente funcionais a uma sociedade que funciona por falta.


O efeito fundamental dessas drogas é o da fissura, da falta de drogas e é disso que as pessoas se tornam adictos: da falta do produto e do produto que produz quimicamente falta.


E assim como a sociedade capitalista vive da produção de falta, a mídia vive da produção de notícia ruim.


Os espectadores e leitores, transformados em voyeurs, consomem horas de TV e páginas de jornais e revistas.


Mas a formação do caráter do cuidador ensina ao mesmo tempo nunca cantar vitória e procurar os pontos e linhas de vida em qualquer experiência.


Vemos que nem tudo está perdido.


Enquanto termino de redigir estas linhas, leio na Folha de S.Paulo a entrevista de Paulina Duarte, Secretária Nacional de Políticas sobre Drogas, sob o título "Falar que o País vive epidemia de crack é grande bobagem", no qual pode se apreciar serenidade e seriedade.


Mais além de começar a desmontar essas ideias alarmistas e que incitam ao consumo, a mídia poderia se questionar a respeito da eficácia de sua ação e divulgar com maior cuidado os resultados positivos do trabalho de tratamento dos CAPS - Álcool e Drogas, dos consultórios de rua, da equipes de redutores de danos, dos atendimentos de urgência em hospitais e pronto socorros, etc.


O trabalho das equipes de Saúde da Família do Centro da Cidade de São Paulo precisa ser estudado.


Elas são a porta de entrada para um mundo quase impenetrável e se pudessem atuar de modo integrado, sem dúvida, teriam maior eficácia.


Nunca esquecendo de que o problema das drogas não é de exclusiva competência da saúde.


As manobras e propagandas contra as drogas só promovem exclusão e incitação ao uso.


E por outro lado, como afirmou um enfermeiro que atua na região, a cracolândia é o lugar mais democrático da cidade, ali qualquer um é aceito.


Divulgando cada passo positivo, valorizando o trabalho desses cuidadores, a mídia provavelmente não faria bons negócios, mas contribuiria para uma das mais preciosas tarefas da construção da democracia: a de tratar como cidadãos os nossos piores congêneres.

*Psicanalista, autor de Clínica Peripatética (Editora Hucitec). Morador do bairro Campos Elíseos, em São Paulo, próximo à cracolândia.


segunda-feira, 4 de julho de 2011

X Congresso Internacional de Saúde Mental e Direitos Humanos


 X Congresso Internacional de Saúde Mental e Direitos Humanos 
17 a 20 de Novembro de 2011
Caros Companheiros e Companheiras:
Convocamos vocês a participar do X Congresso Internacional de Saúde Mental e Direitos Humanos “Práxis da inclusão, subjetividade e cidadanias”, organizado pela Universidad Popular Madres de Plaza de Mayo, a ser realizado entre 17 e 20 de Novembro de 2011, nas sedes da nossa Universidade, localizada na Rua: Hipólito Yrigoyen, 1584 e 1432, Buenos Aires - Argentina.  
No âmbito do Congresso acontecerá o V Fórum de Saúde Pública, Saúde Mental e Direitos Humanos, o VIII Encontro da Luta Antimanicomial, o VI Encontro Internacional de detidos em Movimento, II Fórum Internacional sobre Crianças e Adolescentes e o II Encontro de Arte, Desinstitucionalização e Direitos Humanos.        
Com o poder transformador que as Mães reinventam a cada dia, refletindo tanto nas suas palavras de ordem histórica como em seus múltiplos esforços e iniciativas, fortalecemos o que temos desenvolvido com milhares de Companheiros e Companheiras de toda a América Latina e do resto do mundo. Ao longo destes dez anos de vida insurgente do Congresso. Acreditamos que devemos aprofundar, ampliar e fortalecer nossa prática no campo da saúde e dos direitos humanos. Temos compreendido coletivamenteque é o fundamento histórico social do sujeito a fonte da construção da saúde mental e dos direitos humanos, bem como da transformação do que produz o sofrimento. Isso nos incita a promover o encontro entre aqueles que estão envolvidos nesta transformação, com a convicção de que discerniremos no debate forte e fraterno, comum em nossos Congressos, os territórios para as ações que afirmem a vida, a cidadania e a inclusão.
As mães nos convocam, mais uma vez , para reforçar este espaço consolidado para encontros, debates e críticas de aprendizagem no campo da saúde mental e direitos humanos, com a amorosa determinação de sua marcha em passo firme que este ano comemora 34 anos de vida lutando contra a injustiça.
         Dar a luz a uma luta, dar a luz a mil lutas, parafraseando a voz histórica das Mães, é uma condição necessária para continuar a semear ideais e colher esperanças, que dia a dia são belas realidades em uma inclusão que permite processos de subjetivação desejáveis, plenos e vitais.

         Abrimos mais uma vez nossa convocação, a décima, para participar deste encontro de práticas, teorias, discursos e experiências em busca de uma transformação necessária e imprescindível.
Lic. Gregorio Kazi
Coordenador Acadêmico / Político
X  CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MENTAL
E DIREITOS HUMANOS
FUNDACIÓN MADRES DE PLAZA DE MAYO
EIXOS  TEMÁTICOS  PARA  A  APRESENTAÇÃO  DE  TRABALHOS
Todos os eixos traçam linhas possíveis de desenvolvimento dos trabalhos para aqueles que desejam socializar suas reflexões como expositores durante o Congresso. Estes são também os temas vetoriais a serem debatidos, produzidos e socializados pelos convidados para o Congresso.
A orientação básica que fazemos para as companheiras e companheiros que vão nos enviar os seus trabalhos, é que busquem abordar a temática desejada articulando tanto o foco central da convocação:Práxis da inclusão, subjetividade e cidadaniascomo a "eixos" que ofereçam "rotas de acesso" para ele. Isso nos possibilitára arranjar coletivamente as questões desejáveis a serem discutidas pelos participantes do Congresso.
 ÁREAS TEÓRICO/PRÁTICA
EIXOS
POR ONDE ENQUADRAR SEU TRABALHO

Psicologia
Psicologia Social
Psicoanálise
Psiquiatria
Dinâmica de Grupos
Direito
Arte-terapia
Psicodrama
Serviço Social
Psicopedagogia
Comunicação  Social
C. Política e Social
C. Educacional
S. Pública e Coletiva
Esquizoanálise
Esquizodrama
Novos Dispositivos Clínicos
Filosofia
Antropologia
Terapia Ocupacional
Musicoterapia
Enfermagem
Psicomotricidade
Educação Popular
Fonoaudiologia
Cinesiologia


 - Saúde, Educação e Trabalho.
- Subjetividades insurgentes, inclusão e autogestão.
- Saúde Pública, Saúde Mental e Direitos Humanos: inclusão, cidadania e transformações.
- Violências, detenção, reabilitação?
- Meios de comunicação e Monopólios: a voz da subjetividade alienada.
- Instituições, grupos e sujeitos: entre o instituído e o instituínte.
- As Clínicas: práticas de normalização, práxis de subjetivação.
- Afirmação de Direitos e Multiplicidade.
- Psicoanálise: elucidação, repetição.
- Intervenções Clínicas: o sujeito e as lógicas coletivas.
- O coletivo, contexto e sujeito em situação.


FORMAS DE PARTICIPAÇÃO
Mesas Redondas (Espaço de exposição e debate sobre um tema a cargo de vários oradores, moderado por um coordenador)
Mesa de apresentação de trabalhos livres (Produções teórico-práticas apresentadas pelos participantes de maneira oral e breve, em mesas de três expositores)
Oficinas (Espaço eminentemente participativo e/ou vivencial em qual se realiza e se produz uma tarefa através de distintas técnicas coletivas)
Posters (Modo de exposicição gráfica e/ou visual que de modo sintético apresenta o esquema de um trabalho, projeto ou conclusão de uma determinada experiência ou investigação)
Mostras/Instalações (Durante os quatro dias do Congresso, nas salas designadas para tal fim, se realizarão mostras e instalações referentes às temáticas que nos convocam a este  Congresso)
CONDIÇÕES  DE  APRESENTAÇÃO  DE  TRABALHOS
 Modalidade de apresentação:
(Ver Regulamento de Apresentação de Trabalhos em www.madres.org para obter informações dos requisitos necessários para as diferentes modalidades de apresentação para autores e expositores). Todos os trabalhos apresentados deverão incluir  o eixo e a área teórico/prática, desde o qual se propõe o trabalho.
Trabalhos Livres:
Resumo: não deve exceder a 250 palavras. Sem requisitos técnicos.
Trabalho completo: Primeira Página: Título; nome do/dos autor/es; Instituição a que pertence; endereço, telefone e e-mail. O trabalho deve ter no máximo até 4 folhas. A bibliografía deve constar na página 6. Objetivos: Temática principal e conclusões.
Mesas redondas: especificar expositores e Coordenador. Resumo da proposta da mesa em até 250 palavras. Os requisitos técnicos serão avaliados segundo a disponibilidade destes por parte da organização.
Oficinas: especificar os objetivos e a metodologia a serem desenvolvidos. Apresentar resumo de no máximo 250 palavras. Para esta modalidade nãocontamos com recursos técnicos (TV, DVD, Projetor, etc.)
Posters: medidas: 80 cm x 1m; deverão apresentar um resumo em até 250 palavras. Sem requisitos técnicos..
IMPORTANTE:
Os RESUMOS serão aceitos somente pelo website: www.ndata.com.ar/congreso
As inscrições ao X Congresso serão feitas pelo website. Os que participaram do IX Congresso deverão somente confirmar sua participação.
A data final para a apresentação de resumos é até Sexta-Feira 16 de setembro.
Trabalhos completos (Somente para a modalidade: Trabalhos livres) deverão ser enviados de 03/10 a 14/10 para o e-mail:congreso@madres.org
Por favor, anexar uma autorização para a publicação futura dos trabalhos.
O Comitê Científico se reserva o direito de aceitação dos trabalhos.
Taxas (em pesos argentinos)
No momento de pagar a inscrição os participantes do Congresso deverão levar documentação que comprove a categoria à qual se inscreveram. Todos os participantes e expositores deven pagar a inscrição. SEM EXCEÇÃO.

Alunos UPMPM                                                      

35 $
Alunos Universidades Públicas                           
45 $
Alunos Instituições  Privadas                            
50 $
Trabalhadores da Saúde/Docentes de Inst. Públicas               
55 $
Trabalhadores da Saúde/Docentes de Inst. Privadas                           
60 $
Profissionais
70 $
Aposentados
20 $
Público em geral                                                   
70 $

 INFORMAÇÕES
UNIVERSIDAD  POPULAR  MADRES  DE  PLAZA  DE  MAYO  (Sede 2)
Hipólito Yrigoyen, 1432,  1º Piso  (1089) Capital, Buenos Aires, Argentina.
                          congreso@madres.org                difusioncongreso@madres.org
TEL.: (54 11) 4382-1055


DEPENDÊNCIA NÃO SE RESOLVE POR DECRETO



DARTIU XAVIER DA SILVEIRA
Na sua maior parte, os usuários de drogas ilícitas estabelecem padrões de consumo que os caracterizam como usuários ocasionais ou recreacionais, a exemplo do que se observa com o álcool e com outras drogas legalizadas. 


Apenas uma minoria se torna dependente.

Para quem se torna dependente, seja a droga lícita ou ilícita, as consequências são desastrosas e o sofrimento é intenso

Mas a empatia que temos com o sofrimento do dependente e de seus familiares e a nossa preocupação com o fato de existirem pessoas envolvidas com drogas não nos autoriza a considerar todo usuário um dependente.

Isso não se deve exclusivamente ao uso de uma substância; depende de quem é esse usuário, da sua vida emocional e do contexto no qual ele utiliza a substância.

O amplo consumo de álcool no Ocidente ilustra bem essa constatação: nem todo consumo é problemático.

Por razões eminentemente ideológicas, vemos modelos repressivos do tipo "diga não às drogas" e "guerra às drogas" ainda serem implantados, apesar de suas evidências de eficácia sinalizarem o contrário . 

Claramente, a guerra às drogas foi perdida há muito tempo.

Apesar dos fracassos sucessivos, os guerreiros envolvidos nessa guerra tentaram inicialmente minar as estratégias de redução de danos, mesmo nas situações em que somente estas funcionavam.

Cegos em sua postura totalitária e onisciente, os defensores das guerras às drogas passam a atacar de forma insana o inimigo errado: punir os dependentes, responsabilizar os usuários pelo tráfico, demonizar as drogas e ridicularizar o consumo de substâncias, exceto aquelas que eles mesmos usam, em geral álcool, cafeína e medicamentos, tratadas com injustificada benevolência (cafezinho, cervejinha, uisquinho, remedinho...).

A situação atual no panorama das drogas está entre o circo dos horrores e o teatro do absurdo...

A luta antimanicomial trouxe à luz as condições desumanas aplicadas aos doentes mentais. 

Em vez da hospitalização em unidades de internação em hospital geral, prevalecia um sistema carcerário em que os maus tratos a pacientes eram a regra.

Curiosamente, esse modelo obsoleto tende agora a ser preconizado para dependentes químicos.

Não existe respaldo científico sinalizando que o tratamento para dependentes deva ser feito preferencialmente em regime de internação.

Paradoxalmente, internações mal conduzidas ou erroneamente indicadas tendem a gerar consequências negativas.

Quando se trata de internação compulsória, as taxas de recaída chegam a 95%!

De um modo geral, os melhores resultados são aqueles obtidos por meio de tratamentos ambulatoriais. 

Se a internação compulsória não é a melhor maneira de tratar um dependente, o que dizer de sua utilização no caso de usuários, não de dependentes?

No caso das pessoas que usam crack na rua, é muito simplista considerar que aquela situação de miséria e degradação seja mera decorrência do uso de droga.

Não seria mais realista consideramos que o uso de drogas é consequência direta da situação adversa a que tais pessoas estão submetidas?

A dependência de drogas não se resolve por decreto.

As medidas totalitárias promovem um alívio passageiro, como um "barato" que entorpece a realidade.

Porém, passado o seu efeito imediato, etéreo e fugidio, surge a realidade, com sua intensidade avassaladora....

Assim, qual seria a lógica para fundamentar a retirada dos usuários das ruas, impondo-lhes internação compulsória?

Não seria, por acaso, o incômodo que essas pessoas causam?

Seria porque insistem em não se comportar bem, segundo nossas expectativas?

Ou porque nos denunciam, revelando nossas insuficiências, incompetências e incoerências?

Medidas "higienistas" dessa natureza não tiveram boa repercussão em passado não tão distante...

DARTIU XAVIER DA SILVEIRA, médico psiquiatra, é professor livre-docente da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e diretor do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da mesma universidade.