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O INSTITUTO GREGORIO BAREMBLITT nasce do encontro de um grupo de amigos com um desejo comum de reinventar novas práticas sociais. Para tanto constituímos uma associação sem fins lucrativos. Seu nome é uma homenagem ao psiquiatra, psicoterapeuta, professor, pesquisador, analista e interventor institucional, esquizoanalista, esquizodramatista e escritor Gregorio Franklin Baremblitt. Nosso desejo é que este dispositivo tenha uma inserção social e que possamos construir com nossa comunidade um Outro Mundo Possível.

terça-feira, 19 de abril de 2011

O CRACK E OS CRAQUES: PERVERSÃO OU TRANSGRESSÃO; ESPETÁCULO, SIMULACRO E DILUIÇÃO... Jorge Bichuetti

... " tá lá um corpo estendido no chão,
em vez de uma prece uma praga de alguém;
e um silêncio servindo de amém."


Não se pode mais silenciar. A dor já uma pandemia... de lágrimas, vidas ceifadas e um caos instado no coração da vida e do mundo.

De todas as idades, homens e mulheres, pobres e ricos... a dependência química é uma chaga aberta no socius.

Diabolizar o problema é somente uma nuvem de fumaça que nos iludem e mantém a dor no seu canibal movimento de destruição e morte.

O crack agravou a dura realidade prévia... O sofrimento dos dependentes e a vulnerabilidade social de grupos e coletivos que se vêem ameaçados pelos efeitos psíquicos, sociais e ecossociais da dependência química.

Criminalizamos, discriminamos, segregamos, marginalizamos... e só aumentamos com isso a gravidade da crise instalado nas entranhas da vida.
O estado vê um crime; os moralistas, um pecado; a psicanálise, uma perversão...

O crack agrava: é voraz, rápido, é mortífero... e mais acessível, economicamente, disseminando o problema.

Não é crime; não é pecado... Sempre a humanidade usou de psicoativos para alterar seu funcionamento psíquico.

Rotelli afirma que a droga é um amplificador da consciência...

Deleuze assevera que é uma experimentação vital...

E ambos, identificam na repetição, na compulsão, no uso dependente e exagerado, um buraco negro; no buraco negro, o esvaziamento de sentido e a morte.

A psicanálise generaliza o problema o situando na falência da função paterna e num funcionamento que não suporta a falta e busca o prazer oceânico...

Uma linha... Não se pode mais pensar nas totalizações explicativas; o ser humano não se reduz a uma codificação, não somos codificáveis, somos a complexidade e a diversidade e somos a vida imersa numa realidade histórica-social...

Todos observam um elemento químico: não se produziu drogas que fossem suaves e ternas; elas se impõem e geram mecanismos químicos de tolerância e dependência...

Não é só... há a economia informal que apresenta uma funcionalidade na dinâmica do própria capitalismo.

Há a lei... que cria o submundo; pois, criminaliza, excluindo...
E há um socius cinzento, a ponto de Frei Beto afirmar que ninguém suporta a normalidade.

Vejamos outros dados...

Deleuze advoga que já não funcionamos com o desejo investido nos traços mnésícos e nos afetos com outrora foi visto pelos divãs dos psicanalistas. para ele, hoje, o desejo investe nas percepções, internas e externas... E as drogas, deste modo, incrementam o próprio desejo...

Porém, intensificam, cria uma altíssima velocidade, uma intensa e profunda desterritorialização que leva à fronteira, ao limite... Ali, se não se cria uma linha de fuga, um devir, uma vida nova... Gira-se repetidamente no uso complusivo e no abismo da morte inscrita como destino no próprio corpo...

Rotelli emerge e diz: temos que ser mais alegres, vivos, encantadores do que o universo das drogas... Só assim cuidaremos... só assim reabilitaremos e geraremos vida energizada e potente, que permitirá a libertação dos mecanismos autodestrutivos do buraco negro...

O crack pode ser enfrentado... revela-nos os que cuidam reduzindo danos e criando vida e sociabilidades alegres e solidárias... A rebeldia, a transgressão no afirmativo de uma vida insurgente, cheia de coragem e ousadia...

Há crack... e a morte no crack... Porém, não é ele o único analisador da nossa sociedade e dos nossos tempos.

Há craques.. e não nos parece que são os paradigmas da liberdade, da alteridade e da vida.

Há muita morte entremeada ao fenómeno dos craques... Contudo, são ídolos, idolatrados...São a vitória e a fama; o sucesso, os que se deram bem...

Os craques nos revelam... Vida de palco, de espetáculo... O circo não pode parar... Vida de flash, fotografias, notícias da mídia e mitos que não conseguem vive a própria humanidade...

Num tempo de simulacros... são a dissimulação do simulacro... Ou um simulacro artificial...

Num tempo de vida líquida, são a solidez do corpo-espetáculo que artifialmente encarnam um simulacro e tecem o seu drama, trama, comédia...

Guardam a dor da liquidez da alma diluído nos liquidificadores da fama...

Não há como negar crack e craques são sintomas de uma sociabilidade vazia, individualista, consumista e idólatra...

Se amamos a vida e se a desejamos liberta, vitalizante e pulsante, reinventemos o mundo: criemos um mundo sociabilidade solidária, de direito à diferença e à singularidade... Reinventemos a alegria...

A tristeza, o cinza não o crack... nem rehumaniza os craques...

http://jorgebichuetti.blogspot.com/



 

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