Quem sou eu

Minha foto
O INSTITUTO GREGORIO BAREMBLITT nasce do encontro de um grupo de amigos com um desejo comum de reinventar novas práticas sociais. Para tanto constituímos uma associação sem fins lucrativos. Seu nome é uma homenagem ao psiquiatra, psicoterapeuta, professor, pesquisador, analista e interventor institucional, esquizoanalista, esquizodramatista e escritor Gregorio Franklin Baremblitt. Nosso desejo é que este dispositivo tenha uma inserção social e que possamos construir com nossa comunidade um Outro Mundo Possível.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

CINECLUBE DO INSTITUTO GREGORIO BAREMBLITT

ATA-ME

DIREÇÃO: PEDRO ALMODÓVAR




 "Ata-me" de Pedro Almodóvar, nesta quinta-feira, 10 de maio, às 20h00min, no Cineclube do Instituto Gregorio Baremblitt, rua Antônio de Paula, nº 4, Centro, Frutal/MG, tel. 34 3421 0147. Após o filme, debate com os participantes. Entrada livre.



Ata-me! (1990)

 
Esta cálida obra de Almodóvar se inicia com a tão esperada liberdade de um homem enfastiado com sua vida desprovida de amor. No comportamento de Ricky, o recém liberto, localiza-se a impulsividade de um homem imaturo, quase inocente, que não conhece limites para atingir seu objetivo, utilizando um método ferino para se manter ao lado da mulher que possuiu em uma de suas transgressões cometidas em seu passado soturno. É sempre um prazer acompanhar uma história de amor lasciva e prenhe de originalidade, e “Ata-me!”, não foge à regra.
Um casal atado à voluptuosidade
Uma mulher, cujo corpo foi instrumento da indústria do cinema pornográfico, é alvejada pela fixação de um homem absurdamente obstinado em “Ata-me!” (1990), filme de Pedro Almodóvar sobre uma história de amor pungente erroneamente associada ao sadomasoquismo para a fúria de seu realizador que classifica sua obra como próxima a um conto de fadas romântico. Antonio Banderas no início de sua carreira interpreta um personagem prenhe de vivacidade juvenil, portador de uma natureza dupla capaz de expressar uma brutalidade selvagem em momentos furiosos e um instinto acolhedor e terno em outras situações específicas, convicto em seu desejo de se tornar um indivíduo compatível aos paradigmas de uma sociedade da qual nunca foi membro. Victoria Abril é a mulher desejável mencionada no início do parágrafo, extremamente lasciva, mesmo inconscientemente, é um estímulo sensual para a mente inundada de delírios eróticos de um idoso limitado em uma cadeira de rodas. Marina significa a libertação de Ricky, e com ele descobrirá o amor que surge no âmago da excentricidade com toda a plenitude que não imaginou ser possível.
Ricky (Antonio Banderas) conhece os prazeres da liberdade definitiva após obter a permissão para abandonar um hospital de insanos. A diretora do hospício expõe seus sentimentos, se despedindo com pesar e lágrimas sinceras de seu amante sedutor. Enquanto Ricky descobre gradativamente sua nova realidade, Marina (Victoria Abril) trabalha em um filme distinto da pornografia dirigido por Máximo Espejo (Francisco Rabal), um grande admirador de mulheres e apaixonado pela arte de fazer cinema. O filme que está sendo produzido é “O Fantasma da Meia Noite”, obra burlesca de segunda classe que estava sendo aguardada como o regresso do diretor com sequelas de um derrame. “Ata-me!” demonstra com exatidão as complexidades e as tribulações que se instalam em um set de filmagem enquanto Ricky se infiltra com êxito nas dependências do local furtando alguns pertences da equipe colaboradora, aguardando sua oportunidade de entrar em contato com Marina, a mulher de seu sonho por uma vida convencional.
Após ser ignorado por Marina nos estúdios, Ricky resolve invadir seu apartamento com a violência necessária para refrear os instintos de sobrevivência da mulher que não queria deixar escapar sob hipótese alguma; estava apaixonado por Marina desde que fizeram sexo em uma de suas fugas e agora que se encontrava livre de supervisão médica, queria provar para a vítima que seria seu futuro marido perfeito e exemplar pai de seus filhos. O desejo de Ricky é perfeitamente aceito dentro dos padrões da normalidade, muitos desejam com veemência formar uma família e esta mesma situação é retratada em uma atmosfera de extrema bizarrice, onde um homem dotado de uma inocência quase infantil tenta desesperadamente provar sua capacidade raptando a mulher que queria conquistar atando-a na cama sempre que necessário. O sequestrador está atento às necessidades de Marina e se mostra deveras benévolo em algumas de suas atitudes como quando procura drogas para cessar o sofrimento da dependente, quando Marina evidencia resistência, não conseguindo suportar sua condição de prisioneira, Ricky se torna ameaçador e perigoso, temendo falhar em seu objetivo.
Marina alerta Ricky de que não é como ele, existem pessoas preocupadas com o seu bem estar como sua irmã Lola (Loles León), desesperada pelo seu sumiço repentino, e o diretor Máximo, que contempla avidamente o corpo que deseja possuir em um de seus conhecidos filmes pornográficos. Após retornar com o corpo coberto por feridas latejantes quando se aventurou por uma busca frustrada por heroína, Ricky finalmente sensibiliza Marina a ponto de finalmente fazerem amor. Os planos que retratam o esperado envolvimento carnal do casal concupiscente são os mais intensos de toda a projeção com uma admirável ausência de depravação, apenas a beleza e a excitação de um casal invadido pelo prazer são perceptíveis. Almodóvar opta pelos closes para denotar com perfeição o frêmito da excitação sexual de forma provocante e inspiradora sem a necessidade de recorrer a alternativas desagradáveis, são minutos muito bem elaborados de quase doloroso prazer carnal. Esta não é uma cena de sexo gratuito, é um momento revelador para Marina, que finalmente relembra o prazer que Ricky é capaz de proporcionar ao seu corpo como nenhum homem jamais ousou fornecer. É a partir daí que Marina sente a necessidade anormal de ser atada por ele, temendo por uma fuga que poderia ser motivo de arrependimento posteriormente. A finalização de “Ata-me!” está envolta por uma consciente influência romântica, que promove a metamorfose de um ato inicialmente criminoso e desvairado em uma história de amor aceitável por sua incrível verossimilhança em um universo desconhecido. Uma história de salvação em que um menino sem a mínima referência amorosa descobre o homem que procurava ansiosamente.
“A cena de amor de Ata-me! é aquela de que mais me orgulho; é absolutamente física e muito natural, muito alegre, e as personagens dizem coisas muito fortes, mas de modo muito natural”. – Pedro Almodóvar

Nenhum comentário:

Postar um comentário