Matéria publicada no Jornal Pontal do Triângulo de 26 de maio de 2011.
Lembro-me do meu primeiro contato com a Loucura no famoso Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro...
Luci Mara...
Louca, moradora de rua, sem laços familiares, mulher...
A quem tinham tomado o filho por acreditarem que não era CAPAZ de cuidar nem de si mesma...
Engravidou dentro do Manicômio, “lugar de respeito e bons costumes”...
Recebeu-me aos berros...
Perdia mais uma vez alguém...
O residente que acabara de partir...
Depois de algumas semanas...
Passeios à praia, cafezinho no Shopping, coca-cola e cigarros no “Sujinho” (famosa lanchonete do Campus da UFRJ da Praia Vermelha)...
Passeios à praia, cafezinho no Shopping, coca-cola e cigarros no “Sujinho” (famosa lanchonete do Campus da UFRJ da Praia Vermelha)...
Não mais exclusão social, nem grades, nem maus-tratos...
Amizade, cumplicidade, devir-se outro...
Várias tentativas de alta...
Sempre um não com a justificativa...
Alta para a rua???
Sim, alta para a rua, seu espaço existencial, sua rede social...
Sim, alta para a rua, seu espaço existencial, sua rede social...
Queria tentar rever a mãe num lichão onde a teria visto pela última vez...
Um namorado que vez ou outra levava cigarros...
Quis o destino que parti da UFRJ, lugar gélido, sem com-paixão pelo outro...
Fui viver a Reforma Psiquiatra no Instituto Municipal Philippe Pinel...
Mas não esquecia Luci Mara ou qualquer outra ”Identidade”, pois os nomes ela sempre gostava de trocar...
Muitas vezes Maria...
Visitava-a, continuávamos passeando juntos e sempre o café com cigarrinho...
Depois de um tempo, retorno...
Procuro minha amiga, vou a vários quartos da sinistra enfermaria feminina do IPUB...
De tanto chamá-la, uma voz na escuridão me responde...
Chega alguém que rasteja pelo chão...
Minha amiga...
Não me reconhece mais...
Pergunto a alguém o que houve???
Uma briga, fratura da perna, descaso, omissão...
Minha amiga...
Será que um dia terá sua vida roubada, devolvida???
Gostaria de dedicar esse 1° Aniversário do Instituto Gregório Baremblitt, a alguém que revela como o Manicômio pode destruir vidas tão facilmente...
Há um ano inventávamos um dispositivo para que pudéssemos exprimir nossos sonhos...
Precisávamos agir...
Não queríamos as velhas instituições, tão instituídas e pouco instituintes...
Professor Gregório Baremblitt nos inspirou...
“Cuidar como se vive, viver como se cura”...
Com esta ética nasceu nosso Instituto!!!
Que recebeu o nome de nosso querido mestre...
Sua presença em nossa inauguração iluminava nossos caminhos...
Punha-se um desafio, fazer jus ao nome que se recebia...
Grande guerreiro da paz e da vida...
Uma ONG no processo de libertação.
Uma ONG sem fins lucrativos que deseja que sejamos um dispositivo de intervenção-ação social potencializador de vida.
O público não-estatal, profeticamente, criando já uma molécula do socialismo democrático de uma sociedade sem a opressão de um estado vertical.
Espaço coletivo de produção de um Outro Mundo possível...
Qual caminho seguir???
Criativamente fez-se um espaço de reflexão, formação e invenção de novas práticas clínicas para Frutal e toda nossa região.
Grupos de estudo, cineclubes, conferências...
Inúmeras parcerias com as Universidades e setores sociais dispostos a um novo olhar sobre a vida.
Uma sociedade de amigos...
E eles são muitos...
Espalhados pelo nosso País e pela América Latina...
Mas desejamos mais...
Além de investir nas atuais intervenções sócio-culturais-éticas-estéticas...
Desejamos por em prática, muito do que temos discutido, mas que ainda não é possível de se aplicar via Estado...
Devido à sobrecarga de tarefas e pouca mobilidade emperrada por entraves burocráticos...
Precisamos avançar nas atividades cliníco-institucionais-assistenciais....
Organizaremos, após passagem brilhante de Domiciano Siqueira por Frutal, uma capacitação na Política Nacional de Redução de Danos conforme preconizado pelo Ministério da Saúde e Organização Mundial de Saúde.
Em agosto receberemos a psiquiatra e Doutora em Psiquiatria pela UFRJ, Sandra Fortes, grande amiga, para discutirmos a Saúde Mental na Atenção Básica, além de outras Conferências, cineclubes e grupos de estudo, todos de acesso público, sem custos a população.
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