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O INSTITUTO GREGORIO BAREMBLITT nasce do encontro de um grupo de amigos com um desejo comum de reinventar novas práticas sociais. Para tanto constituímos uma associação sem fins lucrativos. Seu nome é uma homenagem ao psiquiatra, psicoterapeuta, professor, pesquisador, analista e interventor institucional, esquizoanalista, esquizodramatista e escritor Gregorio Franklin Baremblitt. Nosso desejo é que este dispositivo tenha uma inserção social e que possamos construir com nossa comunidade um Outro Mundo Possível.

sábado, 19 de março de 2011

CARTOGRAFIAS: DEPENDÊNCIA QUÍMICA: AVENTURA, VIAGEM OU SERVIDÃO

Comumente, diabolizamos a problemática da dependência química... Vemos desvio, delinqüencia, autodestrutividade, mimetismo social, rebeldia, marginalidade...

Normôticos, olhamos para os que vivenciam as experiências com drogas e os condenamos... Dizemos simplificando o problema: procuram a morte com as próprias mãos...

Este é o pensamento policialesco e normatizante, higienista e moralizante.
Não é um consenso...

Frei Beto , no texto " Vida, sim; drogas, não", para a revista Caros Amigos, declara que ninguém suporta a normalidade. Sugere que só possível superar uma dependência química através de uma paixão, de uma causa amorosa, política, ética, estética ou existencial...

"A normalidade é a mediocridade institucionalizada" ( Miziara, L. In: A Salamandra)

Rotelli chama a atenção para a função de amplificador da consciência das drogas; e assinala que elas não são em si o problema, mas a compulsão que gera um funcionamento à maneira dos buracos negros que esvaziam o sentido da vida e da caminhada. Eles a procuraram porque desejam algo mais do que lhe era oferecido pelo sistema, pela racionalidade técnico-instrumental, pelo modo de viver da subjetividade capitalística. Assim, conclui que aos processos de reabilitação necessitam serem mais sedutores do que o mundo das drogas...

Cuidamos e , depois, os vemos recaídos; contudo, nosso cuidado é um arranjo ortopédico de recuperação da vida anterior , já esgotada no momento da busca da droga.

Deleuze chega com contribuições valiosas...

O uso da droga , para ele, é uma experimentação vital; cujo perigo mora no buraco negro da repetição compulsiva, na ausência de uma linha e fuga( plano de consistência) que permitiria o indivíduo voltar desta dsterritorialização de alta intensidade e incomensurável velocidade, sem cair no vazio novamente ou na rotina cinzenta negada.

Acrescenta mais: antes o homem funcionava investindo sua energia e desejo no campo mnésico e dos afetos, que se mantinham eternizados no inconsciente como representações...

Agora, diagnostica uma mudança neste investimento: investimos nas percepções...

Percepções micro e macro que dilatam o mundo e o subtrai do terrível desencantamento imposto pela lógica mercantil, prática e funcional.
Deste modo, podemos dissolver os preconceitos e pensar o uso compulsivo e a própria fissura.

O uso compulsivo de drogas pode vincular:-se:

- a própria química;

- cultura do tudo posso, um funcionamento narcísico, onipotente e fálico;

- reverberações dos fantasmas da cena primaria;

- o efeito gangue - grupalidade/ tribo/ grupo assujeitado;

- a ausência de planos de consistência para sustentar novos investimentos no universo das percepções;

-e o império das reproduções com esgotamento do instituído;

- falta de uma paixão e causa-paixão;

- e a própria insufiência de uma vida que permanece desencatada, estriada e cinzenta.

A fissura e desejo de uso que retorna com voracidade, inexplicavelmente, após, a vivência de uma desintoxicação, estando a pessoa sóbria.
Quais as hipóteses possíveis: n:

- a sobriedade é uma vida amputada;

- funcionamento normôtico, sem vitalidade, alegria e bons encontros;

- e , especificamente, a problemática das percepções.

As sensações brutas e as paixões estão sob o domínio do cronos, não retornam...

Já as percepções e a arte são experiências que ocorre na ruptura com o tempo cronológico, podendo ser reativadas...

A ressônancia desta reativação gera uma forte vontade de uso...  a fissura.

Então, a autonomia está em se produzir uma vida com singularidade, solidariedade , multiplicidade e investimentos potentes no universo perceptivo.

E o aprendizado de se bifurcar, criar outras saídas, quando do retorno destas percepções, protegendo-se não pela falta ou negatividade, mas pela criação, luta e afirmação de vida.

Re-encantemos a vida e o mundo...

http://jorgebichuetti.blogspot.com/

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